sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

GRITO



“ - Tu não mais te pertence, agora é uma COISA minha.”


Me traga de volta me coloque outra vez no lugar em que me achastes me deixe ser tua me deixe ser minha me cale a dor me desacorrente a alma me deixe partir me engula me aquiete o corpo me de sentido me abrace me solte me quebre a bússola me mate me faça sumir me deixe esquecer me corte me rasgue a carne me enfie os dedos me lambuze me largue me encontre me devolva a chave me leve me lave me sugue me guarde me tire daqui... me tire... daqui ...me... 


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

HIROSHIMA



Do pó que restou dos nós por ti desatados
Colho os cristais partidos do sal que secou

Pobre menina... O corpo magro, os olhos profundos e no sorriso, o mundo.
... Caminhava louca e nua por entre os espinhos do jardim sem se dar conta das fendas que se abriam sob seus pés. Inocente, olhar grudado no horizonte não se apercebia do que a sua volta, apodrecia. Linda menina inocente e louca e nua que bradava sua alegria. Castelos de areia em torres de marfim... Dores sem fim... Em mim
 Corria e ria e colhia as flores invisíveis de um canteiro encantado que ela desenhou com nanquim.
Menina boba! Olha a tua volta!
Lá ia ela...doce,a alma pelo avesso e girassóis no cabelo...
Será que não via, não sabia? Não lia a menina, as letras tortas escondidas nas palavras mortas que aos pés lhe jogavam?
Cantava e dançava e pulava as poças como se o paraíso existisse, como se o mundo dela fosse... Como se o eterno morasse num dia e o sol andasse a brincar pelo céu com a chuva.
Abria os braços em asas e voava... Acreditava...
Que insana menina girando em seu carrossel dourado com sons de caleidoscópio. Que linda menina em tapetes de pétalas macias por sobre os cacos...
    Triste menina a vagar, presa solitária do delírio infame... Impróprio... Nua, sussurrando em trapos a sua loucura. 




quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

CTRL



Em tempos cibernéticos
Des-éticos
Ecléticos
Fétidos rumores exalam das almas encasteladas
Atadas
Marcadas pelo escuro dos cantos tristes dos seus medos vazios
Pobres passantes
Vacantes
Loucos delirantes em seus teclados alados
Calados
Grudados ao terreno seguro ao alcance da mão
do chão
do cão apertado da arma pousada na janela
Dela...
Sem conexão
Inflexão
Paixão
Enter...
sem tesão


VÃO



Em cacos a alma se queda

Se espalha

Se cala

Em sustos a garganta seca

Oos olhos se apertam

as mãos se estendem

se crispam

Buscam no vazio das sombras

o que já não há

o que nunca houve

o que não está

o que jamais deixará

Na canção muda dos risos infantis

gritos de ares suspensos

sussurram

curram

urram em delicados gestos

Oo que da ponte insone se atira.



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

UNIVERSO PARALELO



Talvez em outro tempo eu pudesse
Talvez num outro lugar você quisesse
Mas a vida tem portas que giram
como ponteiros de um relógio doido
que se desfaz em areia