sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pique esconde


Onde está, onde está?
Some aqui aparece acolá,
onde está?

Pega daqui, pega de lá,
Escorrega, desce,
sobe, cadê,
onde está?

Esquenta, esfria,
virou ali,
dobrou pra cá,
sumiu?
Onde está?

 http://neshvideo.files.wordpress.com/2011/08/att00006.jpg

domingo, 24 de junho de 2012

CITIZEN


Lá fora o coro perfeito de vidas sem defeitos, canta
Milhares passeiam tranqüilos, seguros com seus feitos
a estampar as bandeiras do incontestável;
Todos com suas vidas perfumadas e cabelos de seda
Deslizam imponentes as certezas de gestos coerentes
Vão generosos ao bom combate aplacar suas consciências
Pútridas
E nas calçadas as mãos estendidas, sujas, fedidas
Se lançam ao nada.
 http://acertodecontas.blog.br/wp-content/uploads/2007/08/passeata.thumbnail.jpg

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Paul McCartney's 'My Valentine' Featuring Natalie Portman and Johnny Depp

SAMBA DO GRANDE AMOR

Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

terça-feira, 19 de junho de 2012

BLOG DO PEDRO MARINHO


A porta, de madeira escura e pesada, range teimosa ao esforço de abrir;
Lá dentro, o ar de cheiros de abandono, invade os sentidos; Náusea.
Em passos cautelosos, de barulhos de folhas secas, atravesso o pórtico em sombras confusas;
Tapetes gastos de veludo vermelho cobrem a escadaria de corrimão rebuscado;
Á direita, um portal de gesso com desenhos de querubins, anuncia a grande sala;
Belos sofás e cadeiras de espaldar alto com almofadas de brocado, enchem o cômodo com a lembrança do farfalhar de saias de seda ,o tilintar de taças e fumaça de charutos.
Rompendo a delicada teia do esquecimento, por entre nuvens de poeira, caminho;
O corredor comprido e repleto de olhares, termina em portas francesas que se abrem para enormes estantes que tocam o pé direito infinito. Milhares de livros, em títulos doirados, povoam a alma que dorme;
 Ao canto, à frente da janela de cortinas puídas, uma grande escrivaninha de Carvalho; pena, papel e tinteiro, parecem esperar a próxima letra;
Mais ao lado, na parede oposta, uma lareira de pedras, uma confortável Berger, uma pequena mesinha de pés desenhados em forma de patas de leão e repousando, ainda aberto, com as páginas amareladas e carcomidas nas beiradas, um livro de Drummond e uma flor.  

 http://blog.pedromarinho.com/wp-content/uploads/2012/04/catarse1.jpg

sábado, 16 de junho de 2012

Tatuagem - Mulheres de Hollanda - " Imagina Ela"

DESEJO DE BÁRBARA


Vamos meu amor, aproveitar a manhã de sol,
A passear pelas alamedas sombreadas
De jardins floridos e imensas palmeiras
Vamos meu amor, trocar olhares apaixonados,
A beira do lago e em meio a sorrisos envergonhados
Declararmos nossa alegria sem fim
Ergamos nossas taças de tinta beleza
Num brinde a vida em certeza
Da reta firmeza que o amor nos dá

Causaremos inveja a quem não acreditou,
-Olhe que lá vão, coisa escabrosa!
Cochicharão as vizinhas por detrás das portas
Ante a visão de casal tão perfeito
A cumprimentar as gentes de importantes feitos,
na praça ao lado da Rua Direita

Sentaremos á tarde, com imponente respeito
Á mesa dos cafés postas à calçada
 e com belos gestos meigos a vista dos casarios
apreciaremos o sol á deitar-se no rio

De mãos dadas, voltaremos,quando a noite cair,
Para o nosso palacete  
sob os sustos de quem espreita
Na partida do poente a luxúria se fará ouvir

Vamos meu amor aproveitar a manhã de sol e
Sonhar este sonho de puro deleite
 á andar pelas ruas de mãos apertadas
sem medo ou dúvida que aceite
matar nossas vidas entrelaçadas

 Não é a este ou aquele a quem pertence o amor
somente deve a quem lhe atende o clamor
Não és quem deveria,
de cá, também não sou
é só nossa a alegria ou a dor e o dissabor.
O que importa, amada minha
Se és a Ana da canção, se nas noites vazias
És só luz na solidão.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

The Smiths - There is a light that never goes out

PARTE I


Se o silêncio dos teus braços pudessem me alcançar e por um segundo eu pudesse dormir.
Se por um segundo eu fechasse os olhos e pudesse apenas sentir teus dedos passeando nos meus.
Se teu colo doce pudesse me aninhar enquanto acalma a chuva e os trovões se calam.
Se os cacos da minha alma fossem enfim colados sem travo e no espelho eu pudesse ver o vento liso da manhã e o sol entrasse pelas janelas e aquecesse o dia e o medo fosse embora e a lágrima secasse...
Se você pudesse... só por um segundo me levar para longe de mim
Eu não me importaria para onde


                     PARTE II




Queria agora poder escrever dizendo que é verdade, que mesmo a sua revelia ainda te faço farol na noite fria, mas, este é um terreno perigoso, onde piso sempre muito assustada com o teu espanto, onde nunca sei o que você vê. Por isso é melhor não, é melhor fingir.
Engraçado, hoje eu te escrevi e apaguei. Queria perguntar por que tuas noites são insones, porque o desassossego parece morar dentro da tua madrugada, (me lembro do tempo em que acordava e ficava te vendo dormir), mas você nunca me diria e me acusaria de querer o passado, ou o presente e, na verdade eu só quero  o nada, quero o que a "filosofia da práxis" explicou, mas isso também já foi e eu não sei o que você viu além do que escreveu porque depois daquilo você já escreveu tanta coisa e eu também e continuo sem saber se você sabe o que quero dizer ou se eu entendo o que você diz.
 Queria que você viesse aqui,tem uma casa,que não é minha,nem sua,mas está vazia e por um segundo poderia,não o passado,nem o presente,só a casa.Você anda muito romântico,acho que se apaixonou,quem sabe uma outra louca desenhada de contrários,te ganhou,quero te ver feliz.Queria ir até aí,olhar você,ver teu olho me vendo,nem passado nem presente,só teu olho,mas não sei se dá tempo,não conheço o teu tempo nem o que se guarda nele.
Talvez não seja nada disso,nada além de refração,espelho no circo de horrores do vazio.Talvez seja.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Gal Costa - Divino Maravilhoso

AOS VINTE


Impregnada de mim o que eu não fui se cala. Legiões transpassam os olhos que em ti se perdiam...
Devagar em castelos de tempestades e bocas de labirintos atravessamos os campos perdidos do tempo de certezas de ventos doces e quentes. Por mãos de concha guardávamos ar de flores e armas e em cavalos alados empunhávamos as lanças do futuro de nuvens perfeitas, exércitos do eco nas trincheiras do sol. Em vestidos de jardim e sedas negras em ondas, rompíamos as madrugadas de sons de pecados e luz nas janelas. Mares de abraços e rostos e outros espaços, passageiros dos anos das estações de navios fantasmas e sorrisos transmutados. De sal e poesia esculpíamos as feridas em moinhos de violinos e guitarras distorcidas. Por portas abertas ao espelho dos erros corríamos de encontro à morte e vivíamos uma batalha por dia na lâmina quente de facas sem perdão dos que viriam de mãos vazias, pergunta e resposta na ilusão de quem sabia. Graves e sérios, meigos guerreiros da loucura, infinitos num mundo desenhado de limites, vozes numa horda de meninos que cantavam o sonho da estrada construída.
Leves a carregar o fardo da escolha, pintamos o quadro que enfeita na parede branca a lembrança que hoje brinca no espanto de novos heróis.
  

domingo, 10 de junho de 2012

ANJOS


Por ser pega aos sopapos, nos ganchos pontudos pendurados acima,
Ter trespassada a carne da morte sopro da vida,
Jogada aos trancos de milhares de mãos, mastigada e cuspida
Por bocas banguelas, de fina estirpe por putas parida
Me quedo inerte.
De fissuras a epiderme que explode em feridas,
que o sumo aquoso lhe atiça as papilas,
fincada aos desejos,de entranhas fedidas
me quedo partida.
De gritos e berros em crueldade explícita
Que diverte a sanha da tua fome insípida
De sangue que jorra à brancura encardida
acalmo a doença na tua alma perdida.

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX4fn2axcA8HvPi0mUUUIjhmy0wT9MbSOywp_gBewQ086Vh8XEeO7foKRUaNn5vvWObeB3fp8PHKZfLDPl7OXYhrIFtA2stP501KCNV0cfQJIqIrjmJxy6dtu1iPaIIEM1IlJMGO_8woJU/s640/inferno.jpg

sábado, 9 de junho de 2012

FIM


Azul de fundo negro infinito e gélidos suspiros de morte. No branco revolto da espuma, a bruma da distância sufoca a lembrança do calor do fogo que se apaga nos cristais congelados. As pontas lilases tocam a superfície lisa da memória da brasa que mantinham os olhos abertos na luz do farol que desaparecia no horizonte inventado.
No fundo denso dormente de movimentos de inércia, se perde o que estava antes com imagens de cores invisíveis. Vozes mudas de espanto conformado ecoam em ouvidos longínquos de tempos desgarrados. Visões de estranha beleza e medo invadem as entranhas cansadas que se deitam no branco vazio do desconhecido e se deixam cobrir em silencio de nada.

 http://www.jmcfaber.at/images/white.jpg

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A fina, a doce ferida

                                                                                                                       MANUEL BANDEIRA
 A fina, a doce ferida
Que foi a dor do meu gozo
Deixou quebranto amoroso
Na cicatriz dolorida.

Por que ardor pecaminoso
Ateou a esta alma perdida
A fina, a doce ferida
Que foi a dor do meu gozo.

Como uma adaga partida
Purge o golpe voluptuoso...
Que no peito sem repouso
Me arderá por toda a vida
A fina, a doce ferida...





 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkNRbET4gnefqEKMtMdRTq7F2BFrpi9f7tE_JAdRk9lnrZ4BgIlQ70t0AnUzBPFp4FKZfRh3dHK2FUf53jbE5btVxtoeAbzXzVAlIO6sO59-TrD13GMKocuf7Ug-nYdX1Xpu2GvCCMbpHf/s400/sozinha.png


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sentença


Ai que neste campo, em si plantando tudo dá.
A terra é fértil e macia,
qualquer semente se enche
 com fartura,cresce a revelia
Não há esforço ou labuta,
Não há calo, nem dor
Só este campo de eterno
Doce de cheiro encravado
embrião de alegria e ardor
No corpo em planta da alma
Explodindo em vida e calor

Ai que neste campo, a terra tudo recebe,
Com olhos de fome que engole
O que em si plantando dará
Não há fartura nem falta
e se achega alguma dor
Algo vai a revelia
Algo ao esforço e ardor
Lambuzando a palma que planta
 a explosão macia
Na labuta do sol, na lida do dia.

Ai que neste campo, nem tudo a terra engole
Com fome nos olhos plantados,
Só o calo a revelia
Não há fartura e a falta
chega com fervor
Lambuzando de quem planta a palma
 da alma que sangra a dor
Da terra fértil que vivia,
A ser explosão de cor,
E que hoje é só labuta,
No olho suado da lida do dia.

Ai que neste campo, a terra seca a revelia
Não há semente nem chuva
Só labuta e sangue
 e sol e dia
Da lembrança da fartura
Só o calo de quem plantou
Da alma, da alegria,
fome, suor e dor.
Não se achega mais o cheiro,
Doce da terra macia,
Onde sem esforço no corpo fértil,
Tudo era vida e crescia
Do sal da lágrima que desce,
dos olhos cansados de por
no alto celeste a esperança
de findar o seu labor,
rasga a terra o grito
de quem de deus
se enganou
viu a terra prometida,
morreu em solo seco sem favor.
 http://veja.abril.com.br/blog/sobre-imagens/files/2012/01/06_Sertao_TiagoSantana.jpg


sábado, 2 de junho de 2012

Admirável mundo estranho


Tudo é diverso e diluído, longe, onde existe o que é, mesmo lá, nada parece se poder tocar,todos conectados,limitados por distâncias imaginárias impostas por linhas de fluido invisível.Exercito de fantasmas circulando por universos inventados de segurança e solidão.Rostos inexpugnáveis em poses misteriosas de instantâneos da pracinha.Quem são?Por que calçadas pisam?ou flutuam? Reflexo de realidades distintas criadas por máquinas perfeitas de felicidade e desejo satisfeito, todos reais no meu caderno de ilusões. Vidas onde o torto está milimetricamente reto, certo nas metades sempre calculadamente inteiras, como um quadro bem pintado onde o borrão manchado conta a harmonia das formas e a cor de nenhuma tinta dita a pincelada mais forte.
 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaSu8mHMf8DYpmpFq-ttqj4LJNXdhSDUcO_5dBZv6-sEz2pE4yqn6OHiTcGVDh5FUYVeTBHinwg_tI45y4Bw31MGhoh9wkNlGKsKRzXCK_obyxml2tnkrAVRLO24o3NINBdMmN7KHMn_8/s400/car-moebel-caixas.jpg

sexta-feira, 1 de junho de 2012

DESEJO


Às vezes dou em chuvoso e penso querer ser aquele que no fim do dia tem o que contar, nada especial ou diferente, só o trivial, as ruas, a calçada, a moça de cara amarrada esperando o ônibus lotado que não vem,o doce gostoso da padaria da esquina,essas coisas tontas que passam e a gente não vê e depois já foi e a gente quer. Chegar em casa cansado e desmontar na porta e tomar banho quente e esquentar a comida no microondas e reclamar do gosto de nada que ela tem.Olhar os móveis e resolver mudar de lugar e mudar e não ver diferença mas ela está lá. Acordar cedo e engolir qualquer coisa e sair atrasado e não entender de onde vem tanta gente e se misturar no meio do corre- corre e dar risada e sumir feito gota d’água na poça que a chuva fez.

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTBj1GVmLoiDfnIUEx9pf7LZskLMk5aKzrqAVK0QtWZhyphenhyphenYic-fvQc1sZpZ1U39VkzGKLj8FnwMRV8iHXr0omqJMggm-ZDJJFh39X5AC1ppfQG73kvLsTvJuhYIC9DAopFImGSgemT3HAL9/s1600/correria.jpg