segunda-feira, 14 de maio de 2012

RECORTE


De dentro da fotografia amarelada e marcada pelos anos, te observo
a arrastar consigo o passado indelével e o gosto dos mortos.
Te percebo a arrumar em estantes imaginárias,
espaços seguros que os ventos da dor
não podem tocar
De frente a eles, olhas tranqüilo
O que jamais será mudado
Lá, nada se mexe ou quebra
Nada sangra ou grita
Tudo é perfeito em meio ao caos
Te agarras aos pedaços brilhantes
de um tempo que não existe
desesperado em busca de um raso que não há
Remexe as lembranças emboloradas
das feridas sagradas,
sem  encostar
nos cacos traiçoeiros
do que te mantém inteiro
De dentro da fotografia
amarelada e perdida,
me quedo cansada
a implorar pela vida.

Cemitério Bachelor’s Grove, próximo de Chicago



Nenhum comentário:

Postar um comentário