Era um Sábado torpe, como
torpe me parecem todos os Sábados.
Me levantei um pouco
antes do dia,fui á cozinha,preparei um café e,debaixo das cobertas porque o
frio me assusta e dói,liguei a TV.
Não sou exatamente fã
de programas científicos, mas, o corte reto da pata esquerda de uma salamandra adormecida,
me chamou atenção.
Um grupo de cientistas
Americanos e Ingleses faziam pesquisas para a confecção de órgãos humanos em laboratório,
para transplantes.
Corações humanos que
não foram aceitos em transplantes, desprovidos de suas células, criavam vida e batiam dentro de enormes tubos,
bexigas de porcos que, levadas a forma de folhas, eram moídas e colocadas sobre
o ferimento aberto de um dedo perdido de um trabalhador,fazendo com que um
novo membro surgisse, com as mesmas impressões digitais.
Fiquei fascinada.
Tudo isso surgiu da
observação do poder de regeneração das salamandras e da constatação de que o
ser humano não se regenera porque cicatriza.
Neste ponto, minha
loucura já dava voltas e milhares de pensamentos me tomavam de assalto ao mesmo
tempo em que aquelas informações me invadiam
Me remeto,então,a
desconexa lenda da perfeição humana,imagem e semelhança de Deus...,me lembro
dos milhares de seres humanos que choram de dor num membro já perdido e tem no
coto o retrato perene da ausência.
Passeio pelas guerras, pela
ganância e o preconceito, pela crueldade gratuita, pelas mãos estendidas ao escárnio,
pela solidão...
Claro que em defesa da raça,
exércitos de vozes se levantarão e mesmo a minha, em algum momento também
estará lá,
“-Nós
criamos,construímos,sobrevivemos, nos adaptamos!
Tomamos conta do
planeta e do que está para além dele,escrevemos,pintamos,
esculpimos na pedra
nossa marca! Somos providos do bem maior que é a razão, somos seres racionais!”
É..., somos, mas, são
as salamandras que não cicatrizam, se reconstroem, se regeneram e seguem inteiras,
sem lembrança ou dor, sua jornada até o fim.
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