terça-feira, 22 de maio de 2012

O CANTEIRO DE DEUS


Somos todos filhos da angústia, cada um a sua maneira. Alguns mergulham na própria dor, pela manhã ao acordar e antes de, ao fim do dia, se deitar. Outros, sob pena de se afogarem, são obrigados a chafurdar no visgo com braçadas desajeitadas que não chegam a lugar algum; e outros  a trancam num quartinho,lá no fundo do mais profundo corredor da alma  passando toda uma existência sem sequer lembrar do que mora para os lados de lá,mas,somos todos filhos dela.
Há aqueles cuja angústia vem do mundo, se dilaceram, minuto após minuto, pela dor que assola a humanidade. Choram a fome, a miséria, a ferida purulenta, a exploração; gritam a morte do planeta, vomitam ante a crueldade e o escárnio que produzem a ganância.
Há os que a angústia não vem do que vêem, mas, do que são. Nascem tortos, errados, não se encaixam, não se adaptam; inaptos para o comum, o casual, o que produz o concreto. São os que vagam a bater em portas que nunca se abrem os que carregam sem ter porto ou parada, os que olham incrédulos seu reflexo invisível e passam pela vida sem conquistas, orgulhos ou vitórias.
Os que, sabiamente, escondem de si o que existe no fundo, vivem sua história plena, fazem o que vieram fazer, nascem, crescem ,conquistam, constroem e morrem com um sorriso nos lábios e certezas incontestáveis.
Aqueles a quem a dor entra pelos olhos, sobra a dor de viver onde estão e a esperança de que,um dia,seus gritos cessem e o mundo seja o jardim da dor que vem da dor que não se tem
Aqueles a quem a angústia é o barro que os molda e que sonham poderem também ser os que se ferem na dor que é sua por ser alheia, lhes sobra a certeza de que a carne é finita e a alma uma ilusão. 

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