Somos
todos filhos da angústia, cada um a sua maneira. Alguns mergulham na própria dor,
pela manhã ao acordar e antes de, ao fim do dia, se deitar. Outros, sob pena de
se afogarem, são obrigados a chafurdar no visgo com braçadas desajeitadas que
não chegam a lugar algum; e outros a
trancam num quartinho,lá no fundo do mais profundo corredor da alma passando toda uma existência sem sequer
lembrar do que mora para os lados de lá,mas,somos todos filhos dela.
Há
aqueles cuja angústia vem do mundo, se dilaceram, minuto após minuto, pela dor
que assola a humanidade. Choram a fome, a miséria, a ferida purulenta, a exploração;
gritam a morte do planeta, vomitam ante a crueldade e o escárnio que produzem a
ganância.
Há
os que a angústia não vem do que vêem, mas, do que são. Nascem tortos, errados,
não se encaixam, não se adaptam; inaptos para o comum, o casual, o que produz o
concreto. São os que vagam a bater em portas que nunca se abrem os que carregam
sem ter porto ou parada, os que olham incrédulos seu reflexo invisível e passam
pela vida sem conquistas, orgulhos ou vitórias.
Os
que, sabiamente, escondem de si o que existe no fundo, vivem sua história
plena, fazem o que vieram fazer, nascem, crescem ,conquistam, constroem e
morrem com um sorriso nos lábios e certezas incontestáveis.
Aqueles
a quem a dor entra pelos olhos, sobra a dor de viver onde estão e a esperança
de que,um dia,seus gritos cessem e o mundo seja o jardim da dor que vem da dor
que não se tem
Aqueles
a quem a angústia é o barro que os molda e que sonham poderem também ser os que
se ferem na dor que é sua por ser alheia, lhes sobra a certeza de que a carne é
finita e a alma uma ilusão.
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