O
dia clareia na janela, a manhã recoberta de nadas se anuncia
Os
passos, iguais aos do dia anterior, se repetem automaticamente,
Tudo
na mesma milimétrica ordem vai se sobrepondo as horas infinitas.
Uma
nuvem densa e cinza encobre o sol que esparramado, endurece as roupas no varal,
Um
cachorro dormindo,alheio ao mundo que o cerca,levanta o olhar a procura do
calor que agora não há.
Do
fogão, as borbulhas do almoço, se levantam com o vento.
Não
há poesia na vida, nem doces feitos, só as coisas dispostas sem respostas a
nossa frente.
A
água lava em sustos, os restos do prato bem feito que até bem pouco era possibilidade,
Na
casa em silêncio, os barulhos ensurdecem a alma, as paredes, rachadas como as
fissuras do rosto cansado, também desistem aos poucos.
Um
carro anuncia no auto falante o preço baixo do colchão e a morte do dono da
sapataria
A
tarde avança mudando as cores do dia;
no
relógio quebrado pendurado na divisória da cozinha, as horas nunca se movem, como
a me lembrar que não há tampas nesta caixa.
O
cheiro da lenha estalando no fogo inunda o ar com lembranças que nunca
existiram
Lá
fora, a noite de escuros e estrelas, engole o dia sem que se perceba.
O
frio entra pelas frestas da madeira com sua cantiga de esquecimentos e sombras
Melhor
não ter vindo, eu penso de mim,
nada
teria se modificado.
Não
há piedade ou tristeza só a constatação.
Melhor
não ter ficado, penso novamente,
o
que de mim veio,viria de outro jeito,
não
nasci quem verte, nem vertente quis ser.
Melhor
seria se tivesse saído enquanto caminho havia, agora não há mais o que fazer.
No
teto do quarto de cores apagadas, por hoje a vida finda,
parte,
mesmo ficando a minha revelia.
Um
uivo corta a madrugada na mata que cercava a cidade e aquele que um dia foi, se
levanta a procurar o que deixou quando partiu.
Nada
mais há por lá,
nada
mais há em lugar algum,
só
as horas que não passam, infinitas que ficaram e a morte
que
adia sua estrada a se distrair em curvas que nunca se bastam.
Estou
e não irei, ao mesmo tempo em que longe, o trem apita a sua partida e o
maquinista grita.
O
balançar compassado e os calores do vapor põem em movimento o que não se pode
mover.
Atravessa
os campos cobertos pela nevoa que mansa encharca o solo.
Corre
a encontrar seu destino no ponto em que saiu.
Também ele agora é infinito.
Não
há mais trem,nem horas.
Os
dormentes, por entre matos e ervas daninhas,
apodrecem
nos cantos vazios
e
na janela o dia clareia na manhã recoberta de nadas que se anuncia.

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